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  • Foto do escritorAuro de Jesus Rodrigues

Cientificidade


Cientificidade

Segundo Chauí (1995, p. 252-253), historicamente, três têm sido as principais concepções de ciência ou de ideais de cientificidade: o racionalista, o empirista e o construtivista.


A concepção racionalista, que se estende dos gregos até o final do século XVII, afirma que a ciência é um conhecimento racional dedutivo, capaz de provar a verdade necessária e universal de seus enunciados e resultados, sem deixar qualquer dúvida possível.


O objeto científico é uma representação intelectual universal, necessária e verdadeira das coisas representadas e corresponde à própria realidade, porque esta é racional e inteligível em si mesma. As experiências científicas são realizadas apenas para verificar e confirmar as demonstrações teóricas e não para produzir o conhecimento do objeto, pois este é conhecido exclusivamente pelo pensamento.


A concepção empirista que vai da medicina grega e Aristóteles até o final do século XIX, afirma que a ciência é uma interpretação dos fatos, baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer induções, oferecendo definição do objeto, suas propriedades e suas leis de funcionamento. A teoria científica resulta das observações e dos experimentos, de modo que a experiência não tem simplesmente o papel de verificar e confirmar conceitos, mas tem a função de produzi-los.


Essas duas concepções de cientificidade consideravam que a teoria científica era uma explicação e uma representação verdadeira da própria realidade. A ciência era uma espécie de raio X da realidade.


A concepção construtivista, iniciada no século XX, considera a ciência uma construção de modelos explicativos para a realidade e não uma representação da própria realidade. O cientista combina dois procedimentos, um vindo do racionalismo e outro vindo do empirismo, e a eles acrescenta um terceiro, vindo da ideia de conhecimento aproximativo e corrigível.


Como o racionalista, o cientista construtivista exige que o método lhe permita e garanta estabelecer axiomas, postulados, definições e deduções sobre o objeto científico. Como o empirista, o construtivista exige que a experimentação guie e modifique axiomas, postulados, definições e demonstrações. Porém, por considerar o objeto uma construção lógico-intelectual e uma construção experimental, o cientista não espera que seu trabalho apresente a realidade em si mesma, mas ofereça estruturas e modelos de funcionamento da realidade, explicando os fenômenos observados. Não espera apresentar uma verdade absoluta, mas uma verdade aproximada que pode ser corrigida, modificada, abandonada por outra mais adequada aos fenômenos.


São três as exigências de seu ideal de cientificidade: a) que haja coerência entre os princípios que orientam a teoria; b) que os modelos dos objetos sejam construídos com base na observação e na experimentação; e, c) que os resultados obtidos possibilitem não só alterar os modelos construídos, mas também alterar os próprios princípios da teoria, corrigindo-a.


Assim, nesse contexto, explica Chauí (1995, p. 278-279), que a lógica que rege o pensamento científico contemporâneo está centrada na ideia de demonstração e prova, a partir da definição ou construção do objeto do conhecimento por suas propriedades e funções e da posição do sujeito do conhecimento, através das operações de análise, síntese e interpretação. O ideal de cientificidade impõe às ciências critérios e finalidades que, quando impedidos de se concretizarem, provocam rupturas e mudanças teóricas profundas, fazendo desaparecer campos e disciplinas científicos ou levando ao surgimento de objetos, métodos, disciplinas e campos de investigação novos.


É importante ressaltar que, em relação às garantias de segurança de seus resultados, a ciência se vale da crítica constante, da localização dos erros de suas hipóteses e teorias, através de procedimentos rigorosos de testagem que a própria comunidade científica reavalia e aperfeiçoa constantemente. Portanto, o que distingue o conhecimento científico dos outros tipos de conhecimento, não é o assunto, o tema ou o problema. O que distingue é a forma especial que adota para investigar os problemas, ou seja, não dogmatizar os resultados de pesquisas, possibilitar condições de experimentação de suas hipóteses de forma sistemática, controlada e objetiva e ser exposto à crítica intersubjetiva, possibilitando oferecer maior segurança e confiabilidade nos resultados e maior consciência dos limites de validade de suas teorias (KÖCHE, 1997, p. 35-37).


Nessa busca sempre rigorosa, a ciência almeja aproximar-se cada vez mais da verdade através de métodos que proporcionem um controle, uma sistematização, uma revisão e uma segurança maior do que possuem outras formas de saber não-científico (CERVO; BERVIAN, 1996 p. 8).


Autoria do texto


Auro de Jesus Rodrigues


Referências utilizadas


CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: MAKRON Booksd, 1996.


CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995.


KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.


JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3. ed. rev. e ampl. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 1996.

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